São apenas 18 km, mas o Caminho de Santiago do Iguape, no município de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, mostra uma história muito rica na religiosidade, especialmente pelas suas seculares igrejas que estão majestosamente erguidas às margens da Baía do Iguape e do Rio Paraguaçu.
Construídas pelos jesuítas nos séculos XVI e XVI, as Igrejas de Santiago do Iguape e de Santo Antônio do Paraguaçu, são a prova viva da luta de um povo, para preservar a sua história, sua religiosidade e sua própria cultura.
E para contemplar toda a essa rica história, a Associação Bahiana dos Amigos do Caminho de Santiago (ABACS) realizou, no último final de semana, mais uma edição do tradicional Caminho de Santiago do Iguape, que é feito todos os anos no mês de julho, em meio às comemorações ao Santo.
Quase 100 peregrinos enfrentaram os 18 km da caminhada, que começa no entroncamento de uma BR com a estrada estadual do município. Levados inicialmente por dois ônibus, os participantes foram, a pé, ao longo do caminho, descobrindo parte da história desse distrito do município de Cachoeira, onde ficam vários Quilombos, como os de Kaonge e Dendê, na Rota da Liberdade e a pequena Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, no meio de uma fazenda.
Uma caminhada de contemplação, companheirismo, desafio e muita energia positiva, trocada, entre os participantes e a própria comunidade, que ao longo do caminho recepciona a todos com café, cuscuz, bolo, laranja e principalmente carinho.
A chegada no pequeno povoado de Santiago do Iguapé é motivo de muita emoção, pois, devidos aos festejos em homenagem ao aniversário de Santiago, a comunidade está em festa e com muita movimentação. Muitos fogos e música marcam as atividades da semana, quase todas em volta da secular igreja.
Os peregrinos do Caminho de Santiago do Iguape são recebidos pelo padre local, que ministra a benção do peregrino, no interior da igreja e depois é servido um almoço em uma das áreas paroquiais.
O momento de contemplação, da bela arquitetura da igreja e da sua privilegiada localização, de frente para a lindíssima Baía de Iguape, não deixa os peregrinos esquecerem o lado triste desse patrimônio tombado desde 1960 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A igreja sede do distrito praticamente não recebe apoio do Instituto. Quase tudo é feito pela própria comunidade, que cuida do que restou da igreja, já que muita coisa foi destruída pela ação do tempo e dos vândalos.
A Igreja Matriz de Santiago do Iguape é um templo católico romano, construído pelos Jesuítas no Século XVI, que foi totalmente arruinada e reconstruída no século XIX. Ainda assim, ela mantém uma beleza arquitetônica deslumbrante, que é ressaltada pela sua localização.
Para completar a beleza e história do Caminho de Santiago do Iguape, os peregrinos visitam, também, outro secular monumento tombado pelo IPHAN, a Igreja e Convento de Santo Antônio do Paraguaçu, localizada no povoado de São Francisco do Paraguaçu.
Tombado em 1941, esse monumento é um claro exemplo do descaso dos órgãos públicos, para com as belezas históricas do Brasil. Construído no Século 17, a Igreja e Convento de Santo Antônio do Paraguaçu funcionou por 200 anos e depois ficou fechada por quase 100 anos. Mas, resistiu a tudo isso, com ajuda da comunidade e dos fazendeiros da região.
Hoje sobraram as ruínas do Convento e a igreja, apesar de toda a beleza estrutural, sofre com o abandono das autoridades. As lindas imagens que sobraram, da destruição, ficam guardadas pela Diocese e a comunidade e somente são colocadas na igreja, nas datas festivas. Tudo isso para proteger dos vândalos.
Mesmo assim, a igreja é aberta todos os domingos, para a missa e, mesmo em ruínas, o Convento ainda tem muita história para contar. A esperança da comunidade é que a área seja adquirida por um grupo estrangeiro da área do turismo e o local se transforme, numa verdadeira atração turística religiosa, uma vez que toda a Igreja será reformada e mantida com suas atividades.
Terminada a visita histórica, os peregrinos ainda encontram tempo para um momento de descontração e uma das lindas fazendas da região, pertencente a um casal de peregrinos (Sandro e Ana). A Fazenda sugestivamente leva o nome de Santiago de Compostela, também em homenagem aquele que é considerado o Santo dos peregrinos.
Matéria de Selma Morais, extraída originalmente de https://atarde.com.br/colunistas/coroa-de-mochila/igrejas-seculares-no-caminho-de-santiago-do-iguape-1236432